Todo dia eu faço uma aposta.
As pessoas nadam em suas próprias mentiras.
Passam por cima do sol para angariar o que lhes é
aprazível.
E seguem insones.
As cabeças cansadas já não cabem
mais nos travesseiros de costume.
As palpebras pesam à medida dos anos.
As pessoas seguem pisando em seus chãos,
em seus céus, em seus sóis
e em si mesmas.
E se martirizam a cada segredo
guardado na estante
sustentada em madeira e remorso.
As pessoas passam a vida tentando ficar impunes,
enquanto eu almejo apenas ficar
imune a todas elas.
E quando já não há mais espaço entre
madeira e remorso,
as pessoas tentam outros travesseiros que
abracem generosamente suas cabeças cheias
de culpa.
E se aproximam umas das outras em busca
de perdão,
em busca de algo que as leve à redenção.
E seguem cegas
e insones.
À procura de seus travesseiros imaginários.
E adoecem envenenadas por seus próprios segredos.
Todo dia eu faço uma aposta.
Enquanto as pessoas morrem afogadas
na piscina de mentiras que cultivam em seus quintais.
As cabeças são grandes demais
para as fôrmas dos travesseiros vendidos nas lojas.
E pesam.
Pesam a medida dos anos.
E quando estendo a mão a alguém é quase sempre
um lapso.
Cada aceno em direção ao outro é risco de queda livre.
E sempre aceno.
E sempre despenco.
Mas meu consolo é minha estante.
Sustentada em madeira e fé.
E meu travesseiro tem a medida de minha cabeça:
leve.
E ainda assim,
todo dia eu faço uma aposta.
E todo dia eu perco.
[Maíra Viana]
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
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