"... e de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim, eu digerindo faminto o que teu corpo rejeita, bebendo teu mágico veneno porco que me ilumina e me anoitece a cada dia, e passo a passo afundo nesse charco que não sei se é o grande conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim, nos afastamos depois cautelosos ao entardecer, e na solidão de cada um sei que tecemos lentos nossa próxima mentira, tão bem urdida que na manhã seguinte será como verdade pura e sorriremos amenos..." CFA.
quinta-feira, 13 de março de 2008
sexta-feira, 7 de março de 2008
Relativo
Depende muito
depende de quanto queres
quantas palavras queres?
Uma?
Amor.
É muito vago assim?
Depende.
Quantas pessoas queres?
Duas?
Eu e você.
Continua vago?
Então quantas provas queres?
Três?
O dia, o poema e a canção.
Ainda pouco?
Então o que queres?
Depende.
É muito relativo!
Depende muito:
Do amor, de mim, de você, do dia, do poema e da canção.
(para a amiga Diana Carísio)
depende de quanto queres
quantas palavras queres?
Uma?
Amor.
É muito vago assim?
Depende.
Quantas pessoas queres?
Duas?
Eu e você.
Continua vago?
Então quantas provas queres?
Três?
O dia, o poema e a canção.
Ainda pouco?
Então o que queres?
Depende.
É muito relativo!
Depende muito:
Do amor, de mim, de você, do dia, do poema e da canção.
(para a amiga Diana Carísio)
quinta-feira, 6 de março de 2008
idealista
um id
e
a
lista
de papéis
a guardar
guardo eu
guardo tu
guardo sonhos
entre quatro
paredes.
de manhã
quando chove
guarda-chuva
guardar datas
guardar livros
entre números
na gaveta.
e
a
lista
de papéis
a guardar
guardo eu
guardo tu
guardo sonhos
entre quatro
paredes.
de manhã
quando chove
guarda-chuva
guardar datas
guardar livros
entre números
na gaveta.
quarta-feira, 5 de março de 2008
"Não consigo ver mais que isso:
essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora. Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou."
Caio Fernando Abreu
domingo, 2 de março de 2008
É que ao chegar em casa...
me depositei
na latrina
e assisti
de soslaio
um punhado
de sóis negros
na boca
do crepúsculo
dançando loucos
em torno de mim.
na latrina
e assisti
de soslaio
um punhado
de sóis negros
na boca
do crepúsculo
dançando loucos
em torno de mim.
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