quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

travesseiros imaginários

Todo dia eu faço uma aposta.
As pessoas nadam em suas próprias mentiras.
Passam por cima do sol para angariar o que lhes é
aprazível.
E seguem insones.
As cabeças cansadas já não cabem
mais nos travesseiros de costume.
As palpebras pesam à medida dos anos.
As pessoas seguem pisando em seus chãos,
em seus céus, em seus sóis
e em si mesmas.
E se martirizam a cada segredo

guardado na estante
sustentada em madeira e remorso.

As pessoas passam a vida tentando ficar impunes,
enquanto eu almejo apenas ficar

imune a todas elas.
E quando já não há mais espaço entre
madeira e remorso,
as pessoas tentam outros travesseiros que
abracem generosamente suas cabeças cheias
de culpa.
E se aproximam umas das outras em busca
de perdão,
em busca de algo que as leve à redenção.
E seguem cegas
e insones.

À procura de seus travesseiros imaginários.
E adoecem envenenadas por seus próprios segredos.

Todo dia eu faço uma aposta.

Enquanto as pessoas morrem afogadas
na piscina de mentiras que cultivam em seus quintais.
As cabeças são grandes demais
para as fôrmas dos travesseiros vendidos nas lojas.
E pesam.
Pesam a medida dos anos.

E quando estendo a mão a alguém é quase sempre
um lapso.
Cada aceno em direção ao outro é risco de queda livre.
E sempre aceno.
E sempre despenco.

Mas meu consolo é minha estante.
Sustentada em madeira e fé.

E meu travesseiro tem a medida de minha cabeça:
leve.

E ainda assim,
todo dia eu faço uma aposta.
E todo dia eu perco.

[Maíra Viana]

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Antes do Pôr-do-Sol

Acho que sou esquisita por não conseguir superar coisas.
As pessoas têm um caso ou mesmo relacionamentos,

separam-se e se esquecem.
Vão em frente, como se trocassem a marca do cereal.
Sinto que não esquecerei as pessoas com quem estive
porque cada pessoa tem... qualidades específicas.
Não se pode substituir ninguém.
O que está perdido está perdido.
Cada relacionamento terminado me magoa.
Nunca me recupero.
Sentirei falta de coisas mundanas da pessoa.
Tenho obsessão por pequenas coisas.
Talvez seja louca, mas quando eu era menina
minha mãe me disse que eu chegava atrasada na escola
e ela me seguiu pra descobrir o motivo.
Eu estava olhando castanhas caindo das árvores
ou vendo as formigas atravessando a rua
ou a sombra de uma folha no tronco de uma árvore.
Pequenas Coisas.
Acho que acontece o mesmo com as pessoas.
Eu vejo pequenos detalhes em cada uma delas

que me comovem e dos quais sempre sinto falta.
Não se pode substituir ninguém porque todos são a soma
de pequenos e belos detalhes.
Como o fato de me lembrar que tem fios ruivos na barba
e que o sol os fez brilhar naquela manhã
um pouco antes de você partir...
Eu me lembrei disso e senti saudades.
Isso é uma loucura, não é ?

é

ali
e
nada
de tudo.